segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

As Personagens


As Personagens

A curiosidade e o medo davam-lhe força para olhar para cima, queria saber o que era aquilo, porque não conseguia olhar e porquê cria olhar. De repente tudo desapareceu, a escuridão ficou mais negra, o calor desapareceu, mas não deu lugar ao frio, mas sim a uma sensação desconfortável. Não sentia nada. Foi então que ele abriu os olhos e viu o João e o Elton a conversar, tinham apenas 8 anos. Mesmo sem fazer força nas pernas elas mexiam-se e ele andava na direcção deles. Não ouvia um único som, era como um sonho, um sonho mudo, de que ele tinha uma vaga ideia. Quando chegou ao pé dos amigos os seus lábios mexeram-se mas não saiu som nenhum. Os amigos pareciam ouvir o que ele dizia e falavam para ele animados. Por muito estranho que pareça Tiago sabia o que eles diziam uns aos outros como se um fragmento do passado se tratasse. De repente virou a cabeça e viu ao longe uma mulher que ele reconheceu como sendo a mãe de João, Maria, que mexia os lábios e as mãos muito rapidamente como se tivesse a chama-lo. João virou-se e foi-se embora sem se despedir. Só ficaram ele e Elton. Elton o seu melhor amigo, desde pequenos andavam sempre juntos a brincar e destruir. Elton era um rapazito pequeno, magro mas sem medos e muito brincalhão. Mas Tiago sabia que ele já não era assim, agora com dezassete anos tinha crescido e ficado mais entroncado e mais alto mas continuava a ser o mesmo rapaz brincalhão e sem medos. Toda a gente o conhecia por Matias, o seu sobrenome. Elton Matias era o “The man’s man” lá da cidade.Ele e Elton conversavam sobre o que se tinha passado para que o João tivesse ido embora tão rápido e sem se despedir e foi assim, de repente que tudo ficou turvo. Parecia uma pintura do Picasso. Tiago deixou de ver, tudo ficara escuro.Nova paragem, nova paisagem a ser criada, via uma coisa amarela num fundo azul. – O que será isto – Pensou.
Quando tudo ficou mais claro viu que estava na praia e ao longe via as gaivotas sobre o mar. Estava numa toalha junto com os dois amigos numa conversa animada. Estavam molhados, deviam ter vindo a pouco da água. Tiago também sentia uma sensação de “déjá vu” com este sonho como se já o tivesse vivido. Os colegas pareciam ter agora os seus 14 anos e João tinha mudado. Parecia agora que tinha crescido depressa demais, alto e desengonçado, parecia desligado do que se passava como se não se preocupasse com ninguém. Mas Tiago sabia que ele não era assim, sabia que, do grupo ele era o mais responsável e o mais seguro de si próprio. Desde o incidente que João teve aos 8 anos ele tinha mudado e tinha começado a preocupar-se mais com os outros do que consigo próprio. Tiago lembrou-se de quando esteve perto de se afogar naquela mesma praia e o único que teve coragem de o ir salvar foi João. Tiago devia-lhe muito e tenha pena de o ver assim tão desanimado e de poucas falas. João Tiago, também conhecido por JT, tinha vivido e sofrido muito durante a sua juventude. Era agora um jovem forte e corajoso que tomava conta dos seus amigos, mais do que de si próprio. O seu pensamento foi interrompido pelo movimento brusco que ele e os seus amigos fizeram. Parecia que tinham organizado uma corrida até a água naquele dia ameno. Elton ia a frente seguido por Tiago e por João. Chegaram à água e mergulharam com grande alarido, doidos e divertidos. O dia estava quente e o mar revoltado, mas os três amigos gostavam de saltar e nadar através das ondas. Foi então que Tiago deixou de conseguir respirar. Deixou de ver os seus amigos e não conseguia saber onde estava. Pensou que estava outra vez no vazio, mas foi então que viu uma mão a vasculhar a área e depois uma cara. Era João que o procurava. Tiago tinha sido levado por uma onda e era João que o vinha salvar. Viu a mão a segurar-lhe o braço e nesse instante tudo desapareceu.

O início


O início


A noite encontrava-se surpreendentemente escura, tinha chovido a poucas horas atrás e o céu ainda estava coberto de nuvens, mas o local encontrava-se cheio como sempre, fizesse chuva ou sol, quente ou frio a “tasca” estava sempre cheia. Desde os miúdos que vinham jogar matrecos até aos cotas que vinham beber uma cerveja depois do árduo dia de trabalho. Encontravam-se todos animados e divertidos menos lá fora onde um pequeno grupo de três rapazes conversava na esplanada. - Então, Tiago, tens estado tão calado esta noite mal bebeste da tua vodka. Que se passa? - Disse o Elton. - Tenho estado aqui a pensar o que fazia se ganha-se o euro milhões. - Ah é? E o que fazias com o euro milhões? - Perguntou o Elton. - Compravas logo um bugatti não era? - Perguntou o João. - Logo, logo não mas era uma das primeiras coisas a fazer - Disse o Tiago a sorrir - mas primeiro queria fazer uma coisa minha tipo um negocio estás a ver? - Ya! Mas eu não, eu primeiro comprava um casa e um carrão, depois sim começava ou comprava um negocio para poder gerir e ganhar o meu dinheiro, que o euro milhões não dura para sempre – Disse o Elton - Vocês são mas é tolos, eu comprava uma casa e não fazia mais nada na vida, só dormir, comer e vir para o tasco para conviver com o pessoal e jogar matrecosDisse o João - Eh pá. Já está a ficar tarde, vou bazar, amanha tenho coisas a fazer e não posso acordar tarde. Vocês vêm ou ficam? – Disse o Tiago. - É pá, nós ficamos, vamos beber mais qualquer coisa e depois também vamos – Disse o Elton - Ok, então até amanhã. – Despediu-se o Tiago.Depois de se despedir dos seus amigos Tiago foi pagar a sua conta, pegou na bicicleta e foi para casa. Eram duas da manhã e Tiago estava sozinho a pedalar para chegar a casa antes que chovesse. Estava sozinho, com frio e longe de casa. Passados uns minutos o tempo começou a aquecer, Tiago, antes gelado pelo vento frio que cortava, sentia-se agora a suar com o calor que se fazia sentir. - Que mudança de temperatura é esta? – Pensou – Ainda agora estava um frio de gelar.
Foi nesse momento que sentiu o coração a parar e a adrenalina a ser bombeada para o sangue. Tudo ficara escuro. As luzes da rua apagaram-se todas ao mesmo tempo, mal se via as casas que estavam a escassos centímetros da berma da estrada mas essas também não pareciam ter luz nenhuma no seu interior. Tiago sentia um grande calor vindo de cima dele como se algo acima da sua cabeça emanasse uma luz quente mas sombria, escura. Nunca sentira nada assim, algo tão quente e que fazia com que se sentisse tão seguro e calmo e ao mesmo tempo tão sozinho e aterrorizado. Queria olhar para cima mas não conseguia como se algo empurra-se a sua cabeça para baixo.